Uma estrela solitária, cadente
13 de agosto de 2004 - Jose Rocha

O Botafogo de Futebol e Regatas, que, em 2003 perambulou pela estrada ruim da Segunda Divisão, e que Primeira, em 2004, faz campanha medíocre, completou ontem, dia 12 de agosto, cem anos. O mesmo Botafogo que, dirigido por Zagallo, em 1968, foi campeão da última Taça Brasil, que a CBF ainda não reconhece como o atual Campeonato Brasileiro - campeão em cima do meu Fortaleza Esporte Clube, aquele Botafogo que, na época, tinha o "prezado amigo Afonsinho".

Uns dirão que é a Síndrome do Centenário que cai sobre o time de General Severiano, que já teve a "Enciclopédia" Nilton Santos, Garrincha e Zagallo, numa infinidade de craques que já formou uma verdadeira constelação. Mas o Botafogo de hoje, o clube da estrela solitária, não é nem sombra do seu passado glorioso. É mais um dos times cariocas nas últimas colocações do Brasileiro - de braços dados com o não menos glorioso Flamengo. O timaço de ontem é um velhinho centenário sem amparo, entregue às moscas e à vergonha - nem o Estatuto do Idoso, que é muito bom e justo, lhe salvaria do vexame no dia em que completou cem longos anos.

Nessa coisa de constelação, de estrela solitária, o Botafogo foi fazer aniversário justamente no dia em que choveram estrelas cadentes no mundo inteiro - numa bela chuva de meteoros, os Persíadas, que só acontece em agosto, rumo à constelação de Perseu, que iluminou o céu de todo o mundo, fenômeno que ocorre toda vez que o planeta Terra cruza a órbita do cometa Swift-Tuttle. Pois ontem à noite, quando o Botafogo, antepenúltimo colocado do Campeonato, empatou, em 1 a 1, com o Atlético do Paraná, em pleno Caio Martins, com direito a um peru escandaloso do goleiro Jefferson, foi o pico do fenômeno.

Hoje, sexta-feira, dia 13 de agosto, um dia especial para os esotéricos e supersticiosos de plantão, como Zagallo, que jogou no Botafogo, e que o treinou, os jornais não judiam do velho aniversariante. Um, de São Paulo, até diz que "o centenário não ficou tão feio", já que o time pelo menos conseguiu um empate - para mim, só tomou um paliativo, que disfarçou a febre, mas manteve a doença, grave, seríssima, que deve ter deixado as pouco mais de 7 mil testemunhas, segundo a súmula, com um olho no passado - distante - de glórias alvinegras e no futuro - próximo, muito próximo - que pode levar o pobrezinho de volta à Segundona. Que fase, meu amigo! Que fase! Minha amiga Sandra Bonsanti, astróloga, diria que esse velhinho desamparado está num "inferno astral".

Mas ontem foi noite de estrelas cadentes - daí as coisas não terem tido aquele brilho para o time fraquinho, fraquinho, comandado pelo ex-zagueiro Mauro Galvão. O caso é muito grave, diferente do que saiu naquele jornal paulista que citei no parágrafo anterior. O Botafogo faz aniversário no mês de agosto, o mês dos ventos, como a gente diz, o mesmo em que morreu Elvis Presley - e o Botinha, coitado, tem um Elvis no meio-campo. Não que eu acredite nessas coincidências, que não sou tão supersticioso, mas que tem um Elvis lá, tem, e quem o contratou - e escalou - não fui eu.

Pode ser coincidência. O jogador Elvis pode não ter nada com isso. Nem Mauro Galvão. Mas o velho lobo Zagallo, que respira e transpira superstição, e para quem o número 13, do dia de hoje, é absoluto, declarou, ontem, que, para que o centenário do Botafogo não fosse um fiasco, como foi, e tem sido o ano inteiro, seria aconselhável que o presidente do clube, Bebeto de Freitas, parente de João Saldanha, a quem Zagallo substituiu, às vésperas do tricampeonato mundial de 1970, "corrigisse um erro": o de homenageá-lo.

Mário Jorge Lobo Zagallo foi atleta do alvinegro entre 1958 e 1965. Bebeto de Freitas, segundo o coordenador-técnico da Seleção Brasileira, "guarda ressentimentos" e dá de ombros para ele, logo ele que, por outras vias, e não as do Botafogo, acabou de ganhar um busto no Maracanã. Deu na imprensa. Zagallo disse isso mesmo, exatamente no dia do centenário que Bebeto de Freitas certamente desejaria em melhor situação. Viu? Vai brincar com a boca do Zagallo, vai. Eu é que não vou - e bato na madeira, treze vezes, antes que me esqueça.

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