Lá vem o Stedile
07 de janeiro de 2005 - Jose Rocha

Hoje, no banho, bem cedinho, antes de ir comprar o jornal, me deu uma dor de cabeça que me assustou. Pensei: é o cigarro. Há tempos ando mesmo com mais vontade de parar de fumar do que de fumar. E a dor de cabeça continua, depois do meio-dia, quando já li os jornais – e piorei. Penso: é o Stedile. E não é que o maluquinho do MST está no noticiário, com suas ameaças de sempre? Haja dor de cabeça.

Ontem, no Pontal do Paranapanema, mais precisamente em Teodoro Sampaio, na abertura de mais um encontro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, o homem mais atrasado da esquerda brasileira, segundo Mário Prata, disse que o ano de 2005 será marcado “por grandes mobilizações” pelo país afora (ou adentro). Vai ser pior que o “abril vermelho”.

Não há dor de cabeça maior. Sem querer entrar na defesa do governo federal, esse Stedile, com todo o respeito que ele não tem, é doidinho. O líder do MST afirmou, com todas as letras, que o pobre 2005, que ainda nem saiu das fraldas, vai ser de invasões (mais protestos, atos públicos e marchas) de janeiro a dezembro. Quer dizer: a zona está anunciada. Stedile, que já provocou fortes dores de cabeça no presidente Lula, quer mais.

O presidente do MST pretende, com as pressões, “mudar a política econômica”, que, segundo ele, é a continuidade de FHC. Numa queda-de-braço com o governo, “não contra o governo”, diz o rei do paradoxo, é preciso mudar tudo o que aí está. Mas, como os números da economia são positivos, e Lula não vai se render, porque não se mexe em time que está ganhando, já sei, de antemão, que “o pau vai cantar” no campo e na cidade.

Vou deixar bem claro aqui que sou absolutamente a favor da reforma agrária – desde antes de ouvir falar desse tal de Stedile -, mas uma coisa é a reforma agrária, outra é o Stedile. Nem um comprimido (contra essa minha dor de cabeça) me causa a menor simpatia por esse cidadão. Pode ser apenas uma diferença astral, questões astrológicas ou algo próximo, mas o Stedile não me desce pela goela.

Por isso, vou deixar esse assunto para lá, pegar meu neto, Igor, e tomar um bom banho de cachoeira – o sol saiu e o rio Jacaré deve estar lindo, sob o sol. Antes, vou passar na farmácia do Pedro, comprar um remedinho e, claro, não fumar, porque o cigarro tem sido para mim, e minha dor de cabeça avisa, pior do que o Stedile, que tem cabeça, mas juízo, quem disse?

José Rocha, 44, é autor dos livros “Espelho quebrado”, “Batatas fritas ao sol”, “O verbo por quem sofre de verborragia”, “Coração de Leão” e “A lua do meio-dia” (no prelo).

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