O príncipe Harry e aquela festa de aniversário
18 de janeiro de 2005 - Jose Rocha

No final da tarde do dia 9 de outubro de 1940, Londres, a capital da Inglaterra, e outras cidades inglesas, como Liverpool, eram bombardeadas por aviões nazistas. Passava das seis da tarde quando, em meio ao intenso bombardeio sobre Liverpool, nascia o filho do casal Alfred e Julia: John Winston Lennon, assim mesmo, com o nome do primeiro ministro britânico Winston Churchill no meio, o John Lennon, que mais tarde se transformaria num dos mais politizados ícones da cultura mundial.

Mais de sessenta anos depois, e a poucos dias da recepção que a rainha Elizabeth II oferecerá a sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz, no palácio de Saint James, no dia 27 de janeiro, quando lembra o Dia do Holocausto, o príncipe Harry, seu neto, filho caçula do príncipe herdeiro do trono da Inglaterra, Charles, e da princesa Diana, aparece na capa do tablóide inglês The Sun vestindo um uniforme nazista, com uma suástica presa à manga da camisa numa festa de aniversário.

Com a manchete, “Harry, o nazista”, o jornal conta que o príncipe escolheu a roupa para a festa de seu aniversário de seu amigo Harry Meade, no condado de Wiltshire, no sudoeste da Inglaterra. Segundo o The Sun, Meade, de 22 anos, pediu aos 250 convidados que usassem fantasias ligadas ao tema da festa: “colonial and natives” (“colonos e nativos”, em português). O irmão do príncipe Harry, príncipe William, foi à mesma festa “vestido de leopardo”, com polainas pretas e pantufas em forma de patas.

A confusão está armada. Harry, que tem 20 anos e juízo nenhum, pediu desculpas, mas não adiantou. Os súditos da rainha estão indignados. Um importante grupo de direitos dos judeus protestou, dizendo que o príncipe deveria visitar Auschwitz como forma de se retratar da besteira que fez – justamente a duas semanas do 60º aniversário da libertação do campo de concentração nazista na Polônia.

A atitude do príncipe deve render, e muito. Ele, que sonha em entrar para a academia militar de Sandhurst, pode ser impedido, já que o ex-ministro das Forças Armadas, o deputado trabalhista Doug Henderson, pediu que o ingresso do herdeiro real seja impedido.

O príncipe Charles, mais perdido do que cachorro caído de mudança, como dizemos aqui no Brasil, está se matando para explicar o impossível. O assessor de imprensa real (olha o nome do cargo!) disse que Charles “mais uma vez foi decepcionado por seu filho desobediente”. Em entrevista à rede BBC, o assessor de imprensa real (olha o nome do cargo desse homem, um certo Dickie Arbiter), disse, em tom quase doce:
- Não é bom se comportar assim.

Essa frase do assessor de imprensa real (não me conformo com esse nome, é pomposo, chique, vale mais que o salário que o sujeito deve ganhar) é tão idiota quanto o comportamento do pobre príncipe encantado, medidas as proporções, já que o que o moço aprontou na festinha de aniversário foi de lascar.

Perto do que o príncipe Harry aprontou, as férias dos amigos do filho do presidente Lula em Brasília parecem nada, e acho que, a essa altura, não são mesmo nada. John Winston Lennon, o filho do casal Alfred e Julia, que nasceu durante aquele bombardeio nazista sobre Liverpool, e que não gostava de meias frescuras, me daria razão.

José Rocha, 44, é autor dos livros “Espelho quebrado”, “Batatas fritas ao sol”, “O verbo por quem sofre de verborragia”, “Coração de Leão” e “A lua do meio-dia” (no prelo).

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