A minha Seleção
20 de maio de 2006 - Jose Rocha

Quando começaram a surgir as especulações de quais seriam os jogadores convocados pelo técnico Carlos Alberto Parreira para a Copa do Mundo da Alemanha, tratei de “escalar” a minha – somos todos, afinal de contas, “técnicos de futebol”, já se disse mais de uma centena de vezes.

Agora que saiu a lista de Parreira, vejo que a minha não difere muito da dele (da CBF e da Nike, aliás). A grande diferença está no meu time titular. Sem medo de ser feliz, eu escalaria Rogério Ceni; Cicinho, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Edmilson, Juninho Pernambucano, Kaká e Ronaldinho Gaúcho; Adriano e Robinho.

Mas eu teria chamado também Nilmar (Corinthians), Junior e Fabão (São Paulo); e os goleiros Sérgio (Palmeiras) e Fábio Costa (Santos), que não figuram na relação do trio Parreira-CBF-Nike. Não levaria, nem a porrete - e no melhor estilo Felipão -, Ronaldo (dito “fenômeno”, termo com o qual veementemente não concordo, a não ser que o termo se refira aos tempos em que Ronaldo fazia a média de um gol por jogo no Cruzeiro – e passaria Pelé, mas essa é outra história).

Um trio de goleiros com Rogério Ceni Sérgio e Fábio Costa (nessa ordem) é o que temos de mais perfeito nos gramados do Brasil, sem dever nada a Marcos (que quase foi, eu sei, e só sua absoluta ausência dos campos o tirou da Copa), Dida e Júlio César. Mas essa é apenas a opinião de um torcedor – assumido –, e torcedor é assim mesmo: sempre acha que a lista dele é melhor que a do técnico –a minha é, de longe, uma seleção, comparada à que vai jogar no time de Parreira, o entregador de camisas mais bem pago do Brasil.

Só que quem manda na Seleção Brasileira é ele, o chique entregador de camisas, mais o dinossauro Ricardo Teixeira os de sempre. Desde que me entendo por gente (não citei Zagallo por uma questão de respeito), são sempre os mesmos. E, para botar pimenta nesse tempero, tem pelo menos um jogador estrangeiro que eu gostaria de ver com a camisa amarela: o uruguaio Lugano. Como joga esse moço! Eu sei. Esse é um problema meu, mas que Lugano joga, joga, e o mundo sabe, mas quem agradece é o Uruguai.

Antes que eu me esqueça: vamos parar com essa besteira de dizer que a Seleção 2006 é a favorita. É uma plêiade de craques, eu bem sei, uma verdadeira constelação, que país nenhum possui, mas jogo nenhum se ganha antes do apito final do árbitro, ainda mais uma Copa do Mundo – mesmo com os adversários, em tese, capengas. E se Parreira - que deveria ouvir mais o velho Lobo - tirar Ronaldinho Gaúcho da posição em que ele (o menino da Restinga) joga no Barcelona, e o homem vai fazer isso, já começamos mal. Sem contar que o time que ele vai colocar em campo não terá Rogério Ceni (o melhor goleiro do mundo em atividade) como titular, nem Cicinho, nem Robinho (esse misto de Garrincha, Pelé e Canhoteiro).. É bom nos lembrarmos disso – e temei, Brasil: vão jogar Dida, Cafu e Ronaldo (el gordo), machucado ou não, pra variar.

Parreira é o óbvio. Todo mundo sabe como ele “joga” – aspas minhas. Todo mundo sabe com quem ele joga – principalmente a Nike. Meu amigo Laerte Laforgia (amigo e padrinho de casamento) me disse uma vez que as convocações da Seleção são (sempre) feitas em churrasquinhos da CBF – é toda a vida a mesma coisa, são (eternamente) os mesmos, inclusive os técnicos. Basta lembrar que, na conquista do tricampeonato de 1970, no México, Parreira e Zagallo já estavam lá (desculpe, velho Lobo, mas essa escapou).

José Rocha, 46, é autor de quatro livros: "Espelho quebrado", "Batatas fritas ao sol", "O verbo por quem sofre de verborragia" e "Coração de Leão".


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