11 de julho de 2004 - Jose Rocha

Depois, reclamem na fila dos imbecis

É engraçado ver que todo candidato que está no poder usa - descaradamente - a chamada máquina administrativa para se mostrar o fino da competência em ano eleitoral. De dona Marta (ex-Suplicy), a burguesa do PT, prefeita da maior metrópole da América do Sul, ao prefeito mais chinfrim daquela cidadezinha de eleitorado idem - todos usam esse expediente nocivo para a democracia - em nome da qual já se cometeram os piores crimes - mas benéfico para eles, os candidatos a candidatos de nossos tão preciosos votos.

Placas alusivas ao bom desempenho e à santidade do governante - colocadas sob seu comando, e pagas por nós, eleitores e contribuintes, são vistas em todos os lugares, na linha hipócrita do "quanto mais visível, melhor" - para atrair a nós mesmos, eleitores, e, quase sempre, nos iludir. Obras - elas, as obras, armas infalíveis - são inauguradas e reinauguradas, para o deleite do inocente eleitor, que, convenhamos, na maioria dos casos, é burrinho de dar gosto e merece o governo que tem, seja ele qual for: é o eleitor que define quem manda.

Seja em São Paulo, a maior cidade da América do Sul, como escrevi e tantos outros escreveram, seja na menor cidadezinha daquele grotão, o eleitor é dopado e, em outubro, quando se encerra a temporada de caça ao voto, faz a mesma coisa que fez antes: dá poderes a quem não lhe deu nada - de graça, não, porque, de graça, nem a famosa injeção na testa. Penso, às vezes, que eleição, no Brasil, é um saco sem fundo, cujos critérios deveriam ser reavaliados, mas os interesses deles, os candidatos, falam mais alto - e cada vez mais caro, porque toda campanha custa muito dinheiro e muito interesse - viu como nada é de graça?

O eleitor é burro? É. É conduzido? É. Ainda existe o velho "voto de cabresto"? Sim, e cada vez mais ele existe, para o mal dessa tão falada democracia, conquistada a custo de muito sangue derramado. Vota-se sempre nos mesmos falsos profetas. Quando se vota em novos, são novos falsos profetas. E não adianta aconselhar, gritar na janela, chamar a atenção, se matar: o eleitor, viciado, vai sempre pelo mesmo caminho, o da filinha indiana, e, ironicamente, dá sempre o que o predador lhe pede, às vezes sem muito esforço: o voto, que, se esse mesmo eleitor soubesse a força e o poder que tem, seria nossa maior arma contra muito piolho que a gente chama de autoridade - Deus! Mas eu sou um sonhador, admito, e teimoso, para que minha pressão arterial suba e caia no abismo. Tem cada lixo Brasil afora correndo o risco de ser eleito vereador, prefeito, que haja paciência - às vezes, haja vergonha na cara, atributo que falta muito tanto a candidato quanto a eleitor.

Confesso que o assunto cansa. Confesso que já me cansei. Votem em quem quiserem. O problema é de vocês. Depois, reclamem na fila dos imbecis, que existe desde que o mundo é mundo. O único saldo positivo que tiro - antecipadamente - dessas eleições é o fato de que vai diminuir, por ordem do Tribunal Superior Eleitoral, e já não era sem tempo, o número de vereadores em todo o país. Afinal de contas, convenhamos, tinha - e ainda tem - muito vagabundo, com v maiúsculo, legislando sem saber o que quer mesmo dizer o verbo legislar. É fogo - com ph.

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