Primavera árabe chega ao Vaticano
01 de março de 2012



Por Marcos Vazniac - "Pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre". Karl Marx

O movimento surgido em janeiro de 2011, na Tunísia, se espalhou por vários países árabes do norte de África e pelo Oriente Médio. O povo se rebelou contra tiranos e ditadores que durante anos, e mesmo décadas, mandam em vários países, oprimindo o povo.

A tal rebeldia recebeu o nome de “Primavera Árabe”, uma homenagem à Primavera de Praga, levante popular na extinta Thecoeslováquia, que se rebelou contra o poder comunista de Moscou. Na Primavera de Praga, o levante foi contido e esmagado pelos tanques do Exercito Vermelho.

Parece que os ecos da Primavera Árabe chegou à culta Europa, mais precisamente às portas do Vaticano. O grito de rebeldia desta vez, não vem da caliente América Latina, com seus sacerdotes que desafiam impérios, sublevando pescadores e operários. A rebeldia dos padres vem da culta Áustria, país que deus ao mundo personalidades como o compositor Wolfgang Amadeus Mozart, o psicanalista Sigmund Freud e o tirano Adolf Hitler.

O líder da nova rebelião dentro do clero austríaco é o sacerdote Helmut Shüller. Trata-se de uma assembleia de cerca de 300 clérigos que não só instiga a desobedecer àIgreja Católica Romana, fazendo-se intérprete de teses que beiram à heresia, mas que agora também quer se constituir em rede internacional, aberta a sacerdotes de outras nações e continentes.

As idéias dos padres liberais chegou a países como França, Belgica, EUA e Austrália. Para o Papa Bento XVI e a Cúria Romana, chegou o momento de não assistirem mais inertes a esse movimento que quer se desvincular de Roma. Como afirmou o próprio Schüller nas entrevistas que concedeu, há formações de sacerdotes em vários países como a Alemanha, a França ou a Austrália à espera para aderir à iniciativa.

O movimento rebelde está se expandindo pela internet em redes sociais como facebook e twtter.Os padres chamados de rebeldes querem mais liberdade de pensamento dentro da Igreja Católica, dentre eles o fim do celibato.

Em todo caso, as propostas feitas pela Pfarrer-Iniciative (Iniciativa dos Párocos) de Schüller em junho de 2011 têm um "potencial explosivo". O Apelo à desobediência, traduzido em dez línguas, afirma textualmente: "A recusa de Roma a uma reforma da Igreja há muito esperada e a inatividade dos nossos bispos não só nos permitem, mas também nos obrigam a seguir a nossa consciência e a agir de forma independente".

Para alguns jornais austríacos, Helmut Schüller, ex-vigário geral do cardeal arcebispo Schönborn e presidente da Cáritas austríaca, é uma estrela. Schüller também goza do aplauso dos católicos da república alpina hostis à Cúria de Roma, ao qual, enquanto isso, se somaram vários agrupamentos de sacerdotes do exterior.

PREOCUPAÇÃO PAPAL - O Papa Bento XVI está preocupado com a rebelião dos párocos na Áustria. A conversa do dia 23 de janeiro ocorreu em um ambiente cercado pela máxima reserva. Nem os jornais, nem os escritórios de imprensa do Vaticano divulgaram a notícia. Buscava-se evitar de dar a impressão que são sempre Roma e o Vaticano que tomam medidas contra os líderes subversivos. Desejava-se que os bispos competentes, ou seja, os prelados operantes na república alpina definissem e esclarecessem as circunstâncias com os seus sacerdotes. No entanto, o cardeal Schönborn, de volta a Viena, se sentiu aliviado de alguma forma. Se a Iniciativa dos Párocos, enquanto isso, anunciou que quer se internacionalizar e instaurar conexões para além das fronteiras austríacas, a questão já não se refere apenas à Áustria. Neste momento, a bola passa para as mãos do Vaticano.

A queda no número de católicos na Áustria cresce a cada dia. Após escândalos de pedofilia atingir em cheio à Igreja Católica na Áustria, muitas pessoas estão deixando a fé católica, ou pedindo o desbatismo. As pesquisas mostram que a maioria dos 4.000 padres austríacos, um país com profundas tradições católicas tradicionalistas, que vive um processo de vertiginoso triunfo do secularismo e de distanciamento dos fiéis de uma Igreja que consideram ancorada no passado, simpatizam com o movimento que nasceu em junho passado com o Apelo à desobediência, assinado por 329 sacerdotes. Diz-se que mil sacerdotes vivem com uma mulher e até secretamente casados.

O pontífice é muito sensível a um protesto que nasceu do seu próprio mundo germânico e que se estende a outros países e regiões do mundo. Dizem que na Irlanda, comovida pelos escândalos de pedofilia por parte do clero e pelo choque aberto entre o papa e o governo de Dublin, são 600 os sacerdotes que aderem ao Apelo à desobediência.

Por causa dos escândalos de pedofilia pessoas de países como Holanda, Alemanha, Bélgica e Áustria estão não só se afastando das igrejas como também fazendo questão de providenciar o seu desligamento formal da religião, com a solicitação do desbatismo.

A desobediência clerical que nasceu na Áustria, vem num período de desconfiança do mundo em relação à Igreja Católica. Presa às tradições da Idade Média, a Igreja Católica vem cresceendo em países subdesenvolvidos, como do continente africano, América Latina, e certas regiões da Ásia, mas perde clientela em países com alto grau de desenvolvimento cultural e cientifico.

A situação do Vaticano não é das mais favoráveis. No início de fevereiro surgiu uma mensagem divulgada por um cardeal da Cúria Romana, de um suporto plano maquiavélico de matar Bento XVI. O boato foi logo afastado, mas de fato deve ter circulado dentro dos portões guardados pela Guarda Suíça. Parece que a ortodoxia de Bento XVI está com os dias contados. A Igreja Católica, como na época pré-concilio Vaticano II, necessita de novos ares. A briga dessa vez não é contra os evangélicos, que permanecem onde sempre estiveram, mas sim contra o avanço do secularismo que está mudando o mapa da religiosidade no velho continente. E contra a militância atéia, que atinge a fé com direitos e cruzados científicos. Em recém pesquisa, metade dos britânicos confessaram não ter religião, dos que sobraram, metade não acreditam que Jesus é o filho de Deus. Com a palavra final o Vaticano.
(Com informações do jornal O Clarin de Buenos Aires).

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