A participação da sociedade civil no Golpe de 1964
18 de março de 2014


Por Marcos Vazniac - No próximo dia 31 de março o Brasil estará relembrando um dos episódios mais tristes dos seus 500 anos. Desde que as tropas do general Olympio Mourão Filho, marcharam de Juiz de Fora/MG, para o Rio de Janeiro, dando o primeiro passo para a destituição do presidente João Goulart, a vida social e política da nação tomou um outro rumo.

O punhal que assassinou a democracia brasileira teve mentores fora dos quartéis. É o que ficou evidente na obra do historiador uruguaio Daniel Armand Dreifuss, em sua obra 1964: A Conquista do Estado— Ação Política, Poder e Golpe de Classe” (Vozes, 814 páginas, tradução de Ayeska Branca, Ceres Ribeiro, Else Ribeiro e Glória de Mello), escreveu o clássico sobre o golpe.

A obra foi publicada em 1981, mas, anos depois, sua pesquisa resiste — tal a sua qualidade. Claro que novos documentos foram divulgados, o que, de certo modo, desatualiza parte da pesquisa anterior. Dreifuss documenta bem a conexão militares e civis, o que prova que o golpe, além de militar, também foi civil. Documenta as ações do Ipes e do Ibad na articulação e financiamento da derrubada do presidente João Goulart.

A senha para os militares saírem dos quartéis foi A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi o nome comum de uma série de manifestações públicas ocorridas entre 19 de março e 8 de junho de 1964 no Brasil em resposta à "ameaça comunista" representada pelo discurso em comício realizado pelo então presidente João Goulart em 13 de março daquele mesmo ano.

Na data, o mandatário assinou dois decretos, permitindo a desapropriação de terras numa faixa de dez quilômetros às margens de rodovias, ferrovias e barragens e transferindo para a União o controle de cinco refinarias de petróleo que operavam no país. Além disso, prometeu realizar as chamadas reformas de base, uma série de mudanças administrativas, agrárias, financeiras e tributárias que feriam os interesses da classe média e da elite, já que haveria distribuição de terras e bens. Discursando para cerca de 150 mil pessoas, Goulart antecipou a reforma urbana e a implementação de um imposto sobre as grandes fortunas. Até o clero brasileiro ficou dividido.

Outra obra 1964: História do Regime Militar Brasileiro do autor Marcos Napolitano, demonstra que a ditadura durou muito graças ao apoio da sociedade civil, anestesiada pelo “milagre” econômico. Foi Geisel, com a ajuda de Golbery, o pai da abertura, ou foi a sociedade quem derrubou os militares do poder?

Empresários como o dinamarquês Henning Albert Boilesen estiveram ao lado dos militares. A vida de Boilesen é um exemplo dessa colaboração. O empresário emigrou para o Brasil na década de 30, onde se tornou presidente do grupo Ultragás.

Anticomunista, financiou e apoiou ativamente a Operação Bandeirante (Oban), incentivando outros empresários a fazer o mesmo. Criada pelo Exército brasileiro em 1969, a Oban foi o embrião do Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). De acordo com o documentário, Boilesen também teria sido colaborador da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA. (Revista de História).

A própria sociedade não está inocente. Ela não se manifestou adequadamente contra o primeiro Ato Institucional, que na realidade foi o começo de tudo. Somente no AI-5, mais de quatro anos depois, é que a sociedade tentou iniciar a reação que, acrescida à desmoralização e desgaste do próprio regime militar, resultou no funeral da ditadura.

Há um esquecimento generalizado do apoio que a sociedade deu ao golpe de Estado de 64. Imprensa, igreja, empresários e até gente do povo se alegraram com a tomada do poder pelos militares. De 64 a 68, as reações foram setorizadas e poucas. Quem quis e pôde manifestou-se contra a violência. Sem dar razão aos vencidos, condenou os vencedores. E pagaram por isso. (Blog Luiz Nassif).

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