Racismo e Casa Grande & Senzala em Adamantina
08 de dezembro de 2014


Por Marcos Vazniac - Que o Brasil é um país racista todos sabemos. Que a elite brasileira é uma das mais preconceituosas do mundo nós todos sabemos, mas não admitimos a existência de tais atos no cotidiano que envergonham a humanidade.

O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, e mesmo assim os negros libertos dos grilhões da escravidão não receberam um pedaço de terra nem um pouco de dignidade. As favelas surgiram para substituir a senzala no velho jogo de interesses descritos por intelectuais como Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro.

A elite brasileira nunca largou a alcatra, nem larga o osso. Sempre esteve ao lado do poder, mesmo quando nossa frágil democracia foi assassinada como no famoso golpe cívico-militar de 1964.

O racismo assim como o fascismo é o nazismo são o triple do demônio, algo que só existe em cabeças acéfalas e desprovidas de qualquer vestígio de vida. O caso de racismo que está atingindo o maculando a imagem de Adamantina merece nosso repúdio. O que está por trás do racismo? A sociedade adamantinense é conhecida na região como uma das mais radicais e conservadoras. Não querem largar o osso, ou dividir o poder seja político ou religioso com a senzala. Não se misturam é como óleo e água.

A Igreja Católica por sua vez evoluiu muito desde o Concílio Vaticano II, passando pelos “micro concílios” de Puebla e Medelin. A opção preferencial pelos pobres e pelos jovens foi uma seta para muitos padres e leigos não somente n Brasil, mas em toda América Latina. Em defesa dos pobres, negros, índios e marginalizados, muitos mártires derramaram seu sangue e fizeram do seu sangue a semente de um mundo mais justo e fraterno. Mas nem sempre a cúpula da Igreja Católica esteve ao lado dos mais fracos. Posso citar só três exemplos.

Em 1984, a Igreja Católica teve um caso semelhante ao do que está acontecendo em Adamantina. O teólogo brasileiro, Frei Leonardo Boff O.F.M. foi convocado pela Congregação para a Doutrina da Fé, ex-Santo Ofício, para prestar esclarecimentos sobre o seu livro Igreja Carisma e Poder. No livro, o frei brasileiro teceu críticas à hierarquia da Igreja Católica, e defendeu com unhas e dentes uma igreja mais descentralizada e voltada para as classes menos favorecidas. A repercussão foi mundial e Boff silenciado com dois anos de silêncio obsequioso. Na época os jornais do mundo estamparam manchetes tipo como as do Le Monde francês: “O Papa João Paulo II prefere D. Paulo Evaristo Arns ou o abraço de Ronald Reagan?”

Quatro anos se passaram e novamente a Igreja Católica no Brasil esteve no centro do redemoinho. O bispo da Prelazia de São Fêlix do Araguaia, no Mato Grosso, D. Pedro Casaldáliga foi advertido pela Congregação para os Bispos e para a Doutrina da Fé, que na época era presidida pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, atual Papa emérito Bento XVI. O defensor dos índios e da reforma agrária estava irritando a elite ruralista dos sertões da Amazônia. O Caso Casaldáliga só não foi para frente devido a imensa repercussão obtida em todo mundo.

O próprio papa João Paulo II em visita à Nicarágua, no verão de 1983 discutiu em público durante uma missa campal em Manágua, capital nicaragüense. Na época o país de augusto César Sandino, tinha se libertado de uma tirania de Anastácio Somoza, tirano patrocinado pela Casa Branca que caiu em desgraça após uma luta feroz liderada pelos sandinistas, muitos deles católicos. O Papa João Paulo II deu de dedo no rosto do padre poeta Miguel d' Scotto para que ele largasse a política e cuidasse só do reino espiritual.

Nos três fatos descritos, a Igreja Católica esteve dividida entre liberais e conservadores. Hoje, passados 25 anos da Queda do Muro de Berlim, as diferenças sociais e políticas parecem que não acabaram. Ressurgem das cinzas como a mitológica ave Fênix.

Adamantina não é o mundo, alias está longe de ser o centro do planeta, mas dentro de um pequeno círculo da elite adamantinense parece que há o velho preconceito, que vira e mexe aparece nas páginas policiais e envergonham a raça humana.

Ainda há tempo para sanar as feridas. Tempo de reflexão e de ponderação.

Temos a liberdade de escolha e o livre arbítrio, porém temos que ter cuidado para não abrir a Caixa de Pandora, pois se a abrirmos, as mazelas serão para todos e nem a esperança nos salvará.

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